Do certo ao incerto sinto a incerteza da felicidade por ser composta de momentos. Não é como o morro branco em que vejo suas delimitações escuras claramente , e sentindo seu cheiro de chuva posso afirmar que sua dimensão mudará pois chegará a mim.
Pudera eu agarrar os momentos de esperança e como gosma orgânica levá-los comigo junto às entranhas, para que pudessem se fazer eternos.
As conquistas da vida nova são embrenhadas por uma solubilidade da qual não posso omitir a dúvida de que tudo o que é bom, sinto como belo demais para ser verdade, como se não fosse merecedora dos beijos da lua e da sexualidade das estrelas.
Uma espécie de esperança doída me toma logo após a mínima das vitórias. São tantas feridas escolhidas, tantas mortes vividas, dores sentidas e buracos profundos imersos em mim que por impressões tolas escuto sussurro estúpido, dizendo que a glória está contada, e que as pragas rodam em volta vorazes em destruir meus brotos prontos para o novo amanhecer.
E ao invés de pular risonha e gritar possessa de alegria, me enobrecer pelo voo bailado em rabiolas que agradavelmente insistem em me seguir, penso: “Será que poderei viver novamente?”
Depois de todo o sangue grudado em minha boca pelo próprio punhal, tantos atos tormentosos e desvairados por puro e impuro desrespeito à beleza da vida, pela minha condição frágil de extrema brevidade, torna-se difícil entender o inexplicável, as chances de gotas gordas que caem de onde não posso atingir.
Tento conter meu encanto e desconto em meu pranto, racionalizando emoções brilhantes para que fantasiosas expectativas não quebrem minha cintilância. Mantenho-me vidrada sobre minha paleta de cores pois sei da sua solidez.
Aquela carne que me proporcionou a vivência de um amor incondicional, duvidou da minha objetividade ao dizer que não bato bem da cabeça, assim como do meu conhecimento concreto ao desenhar uma estranha ironia, esquecendo-se por segundos de que tal chaga também faz parte de minha completude. Rimos então da comicidade do que é subjetivo.
A imposição de um passado em trevas escurecido por pincel grosso e negro ainda embaraça uma construção de histórias ricas em tela branca, pronta e aberta para qualquer ritmo desde que seja dos mais fortes.
Estimo o desconhecido da busca, a sedução do desejo, o prazer da corrida, a explosão do que estremece o corpo e bombeia o coração.
Como me proteger sem minha armadura, mesmo que açucarada? Como me desarmar após tantas mutilações assimiladas; meu sorriso inocente e sincero vencerá o mal disfarçado, sem face e sem forma?
Minha cota de lances ao abismo já chegou ao fim. Não posso mais adquirir dívidas pois o tempo corre, e minhas lutas em pontas de faca não admitem mais o desgaste do pagamento.
Sabendo que o sofrimento é evidente e inerente à existência, seria de tamanha burrice buscar a imbecilidade de prazeres fugazes, de desprazeres salientes que colam à alma.
A cada dia são vinte e quatro horas de policiamento. Vinte e quatro horas de espetáculos gratuitos.
Cabe à minha inteligência dada por méritos momentaneamente esquecidos deliciar-me com o show da vida, enriquecer-me com o som da brisa, maravilhar-me com criações e criaturas; ou enovelar-me nos gemidos da angústia funda de profundidade profunda, das escolhas amargas revestidas por ouro velho.
Alimentarei-me, então, do seio dos sonhos, celebrando as labaredas ou os petiscos de cada risco.
Admirável capacidade de criação que os despedaçamentos lhe incitam,…desejo força, como a capacidade de se apropria dos fenômenos e lhes conferir novos sentidos…sorte!!!
“Tudo é um eterno vir a ser que eternamente se retorna. A existência permanece fiel a si mesma essencialmente em sua lei suprema, inabalável, inevitável, do retorno !!!”